Emmanuel Esteves:

As vias de comunicação e meios de transporte como factores de globalização, de estabilidade política e de transformação económica e social: Caso do Caminho de ferro de Bengela (Benguela) (1889-1950)

Emmanuel Esteves

De todas as novas técnicas de comunicação e de transportes introduzidas na Africa Central, em geral, e em Angola em particular, - cabo submarino, fio telegráfico ou / linhas telegráficas, etc. - os caminhos-de- ferro foram as que condicionaram e marcaram as actividades económicas, politicas e sociais.
A linha férrea de Benguela era tão importante que transformou a geografia económica levantando da letargia que jazia a sua zona de influencia. A economia assentava inteiramente na agricultura cuja a cultura de milho adquiriu uma grande importância, por constituir a alimentação de base das populações locais, tornar se o principal do produto do comercio interno e externo, a fonte das receitas do tráfego da linha férrea e por fornecer os recursos pecuniários às populações locais para o pagamento do imposto. No rama industrial, a produção artesanal autóctone cedeu o lugar a pequenas indústrias transformadoras.
Embora a linha férrea de Benguela fosse considerada a mais económica de todas as vias de escoamento dos minérios do Katanga, ela não conseguiu, no tráfego internacional, desviar o tráfego mineiro do Katanga, nem conseguir fazer concorrência com as linhas férreas e portos da actual Republica Democrática do Congo da Africa Austral (RR, Beira). Isto tornou a linha férrea de Benguela deficitária.
A política da construção dos caminhos de ferro condicionara a geopolítica de Angola e da actual Republica Democrática do Congo. As decisões politicas foram tomadas tendo em conta o condicionalismo económico em Angola e no Congo. A cooperação estabeleceu se também entre a administração colonial e o meio financeiro; e o caminho de ferro de Benguela tornou se numa arma de negociações quer para manter a integridade territorial de Angola quer para afastar as ambições das potências coloniais mais poderosas.
O Caminho de ferro de Benguela sendo uma linha de penetração permitira à administração colonial portuguesa a concretização dos projectos coloniais entre outros, a ocupação efectiva e a organização administrativa da zona de influência do CFB e a integração da região na economia colonial. A linha férrea de Benguela fixara os Portugueses na sua zona de influencia; criara e permitira a criação das povoações e cidades ferroviárias, administrativas e comerciais.
A Zona de influência CFB foi transformada num reservatório de mão de obra; o autóctone foi transformado numa máquina de produção de riqueza pública; o ordenamento do espaço, a expropriação dos terrenos dos autóctones, o regime de trabalho forçado, o recrutamento de mão-de-obra, as más condições de trabalho, o imposto indígena, provocava as migrações e emigrações; a convergência de "raças", as novas técnicas e a duração do contrato, as doenças contribuíram à diminuição da população autóctone; o ensino baseado na formação de bons trabalhadores não permitiu a evolução social e intelectual dos autóctones e era ilustrado pelo elevado índice de analfabetismo; a rede sanitária pública e privada sendo deficiente, a população vivia pela consagrada mercê de Deus e do kimbanda; as más condições de trabalho na Companhia CFB e no Porto do Lobito, as crises económicas, as fricções sociais, a resistência passiva e o anti colonialismo provocaram as greves e outras atitudes anticoloniais cujos bodes expiatórios eram os chefes tradicionais, os Alemães, os Polacos e os missionários católicos e protestantes.
Apesar do caminho de ferro ter beneficiado pouco negros, contudo, estava na base da globalização, da estabilidade política, das mudanças económicas e da mobilidade e promoção social da região.

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