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A
questão da unidade nacional constitui ainda hoje uma das preocupações
essenciais nos paises africanos em geral e particularmente em Angola.
Embora as fronteiras herdadas da colonização europeia
sejam respeitadas no quadro das convenções internacionais,
elas não deixam de ser artificiais pelo facto de ter separado
arbitrariamente os povos e destruindo deste modo os Estados precoloniais,
que foram constituidos ao longo de vários séculos de movimentos
migratórios bantus. Como se sabe, Angola é neste contexto
um mosaíco de diferentes grupos étnicos e raciais, que
antes da invasão europeia tinham diferentes estruturas de organização
política, cultural e social.
Ao longo da colonização portuguesa essas estruturas ou
"Estados precoloniais/ Nações étnicas"
foram politica e socialmente desfeitas. O colonialismo português,
como sistema de exploração económica, de discriminação
e de opressão, engendrou por sua vez novos fluxos migratórios
(comércio triangular, imigração portuguesa e trabalho
forçado) que transformariam a sociedade angolana.
Em 1975 o MPLA que viria a proclamar a independência nacional
em Angola, deveria não só resolver os problemas de desenvolvimento
económico de vária ordem mas também promover a
"unidade ou consciência nacional" entre os diferentes
grupos étnicos com tradições e costumes próprios.
Essa política de integração que tem o seu suporte
ideológico no conceito europeu da nação, não
teve em conta a realidade socio-cultural do país, provocando
deste modo a crise de identidade e de integração que se
vive em Angola.
A guerra civil como uma das consequências dessa crise identitária
desfez ainda mais a sociedade de tal modo que alguns segmentos da população,
condenados desde 1975 a successivos movimentos migratórios permanentes
quer no interior como no exterior (deslocados/ refugiados) já
não se identificam com o "Estado-Nação"
angolano. A solidariedade étnica e os outros tipos de vínculos
sociais aparecem como resposta à crise identitária do
Estado angolano.
A luz do acima exposto coloca-se a pergunta de saber, como é
que se pode ultrapassar a crise identitária do Estado angolano
sem todavia pôr em causa as fronteiras coloniais? Qual é
o peso político da etnia como comunidade social, económica
e cultural? Será que a democratização da sociedade
angolana e com isso o desenvolvimento económico do país
é possível sem ter em consideração a realidade
socio-cultural?
As perguntas acima colocadas vão ser respondidas com base na
teoria política sobre a regionalização como forma
de ultrapassar a crise de identidade estadual, recapitulando nesta ordem
de ideias os movimentos migratórios históricos que levaram
à formação dos Estados precoloniais dos Bakongo,
Ambundu, Ovimbundu, Tchockwe, Nganguela, Ovambo etc. no actual território
de Angola. O debate sobre as emendas constitucionais em Angola será
igualmente analisado.
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