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planalto central de Angola rotas comerciais cruzaram-se durante séculos,
usando os carregadores como sistema de transporte. A ocupação
colonial do início do século vinte não alterou
essa realidade. O Caminho de Ferro de Benguela atingiu o planalto a
partir de 1910 e tornou-se a via principal de escoamento de mercadorias
de e para o litoral, estimulando a produção e o comércio
regionais. Mas estes continuavam a depender dos carregadores para chegarem
à linha férrea.
A definitiva ruptura com o antigo sistema veio com a expansão
do transporte rodoviário. A região central de Angola foi
aquela onde mais cedo e com maior intensidade a rede de estradas se
estendeu, valorizando ou criando pequenas vilas comerciais ao longo
dos percursos, deixando outras zonas na periferia.
As consequências económicas, sociais e políticas
do desenvolvimento da rede de estradas começaram por ser catastróficas
para a população local: milhares de adultos e crianças
das aldeias vizinhas forçados a um trabalho violento e sem retribuição,
com meios técnicos primitivos (como em 1925 denunciava o Relatório
Ross à Sociedade das Nações), transferência
definitiva para as mãos dos colonos portugueses do controlo da
circulação das mercadorias, reforço do controlo
das autoridades coloniais sobre os "indígenas", já
que a estrada facilitava a cobrança de impostos e o angariamento
para o trabalho forçado. No entanto, tal como perante outras
mudanças drásticas impostas pela colonização,
os colonizados acabaram por fazer reverter a seu favor a maior facilidade
de circulação de pessoas e mercadorias, utilizando intensamente
as novas vias. Também no caso do Huambo o transporte rodoviário
veio, a par do comboio, transformar o tempo e as distâncias, as
relações sociais e o modo de ver o mundo.
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