Rosa Cruz e Silva:

O tráfego no Corredor do Kwanza Secs.XVI-XIX. (Dos n'dongo aos barcos a vapor) Continuidade e ruptura

 

 

Rosa Cruz e Silva

Os processos históricos que tiveram lugar nesta região do antigo estado Ndongo, impulsionaram o desenvolvimento gradual de técnicas de navegação fluvial e de cabotagem ao longo da costa que permitiram a ligação entre os povos do interior e o litoral desta zona do continente.
As transações comerciais efectuadas na altura, percorriam os caminhos do Kwanza no seu troço navegável e chegavam ao mar. Este foi sendo reconhecido sempre ao longo da faixa costeira na direcção de outros territórios políticos nomeadamente ao Soyo, Loango, Mayombe.
Razões de carácter económico e político explicam tal movimento. Chegados aos Sec. XVI, o corredor do Kwanza vê chegar novos protagonistas que intervêm no processo político em curso. Alteram-se na sequência de tais movimentos as dinâmicas preexistentes. Promovem-se nas mesmas rotas outros ritmos de transações comerciais, ou melhor crescem os volumes e o tipo de mercadorias.
Os poderes políticos instituídos buscam formulas várias de adaptação a nova ordem que os europeus se batem de armas na mão para impôr. E é justamente nesta luta desenfreada que assistimos a introdução de novas lógicas na prática do comércio. Desenvolve-se o comércio humano em direcção aos portos marítimos, e as rotas internas são também aproveitadas. O corredor do Kwanza promove, facilita este novo movimento, pois que as mercadorias que se transportavam nos ndongo são cada vez mais os filhos da terra que vão alimentar outros negócios nas Américas. A comunicação de longa distância, repete-se, contudo avalia-se o espaço de ligação nas milhas que atravessam os oceanos. Neste período os benefícios desta comunicação não são visíveis, pois, se este ou aquele soberano africano terá beneficiado com as mercadorias trocadas, o balanço de tais transações não tornou mais felizes os homens transaccionados.
Depois da lógica do tráfico transatlântico, e na busca do novo comércio, desta feita sustentado pelos produtos que a África produzia, assistimos a introdução de novas técnicas de comunicação.
Já no Sec. XIX quando o tráfico transatlântico entra paulatinamente em decadência em face dos novos pressupostos ideológicos e económicos sobretudo, o interesse pelas mercadorias africanas (marfim, urzela, cera, borracha, café entre outras) introduz um novo fluxo nas transacções comerciais, quando estes produtos atravessam todos os sertões do território e pelo Kwanza atingem também o Atlântico.
A tecnologia moderna que chega com os barcos a vapor percorre os mesmos caminhos e introduz naturalmente outro potencial no tráfego de mercadorias e de passageiros. O capital do conhecimento adquirido, por via da introdução de meios técnicos modernos para a comunicação nesta região e neste período concreto, ainda assim não promoveu os níveis de desenvolvimento desejados às populações locais. Sabe-se muito pouco das influências reais de todo este processo histórico. Pretendemos mostrar como as fontes documentam, os pontos de contacto entre o conhecimento endógeno e as novas técnicas que interpelam dia a dia os moradores do corredor do Kwanza.

 

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